28 de outubro de 2009

Japan Through Diplomats Eyes 2009


Decorreu ontem, no Roppongi Hills Café (Mori Tower, Roppongi Hills), a cerimónia de entrega dos Prémios do concurso "Japan Through Diplomats Eyes 2009", com a presença da Princesa Imperial Takamado.

Este ano o Grande Prémio na categoria "wabi-sabi" coube ao nosso colega Paulo Lopes Graça (recentemente transferido para Seoul) - foto superior central, ver abaixo. O prémio foi recebido em seu nome por Paulo Chaves, que também participou no concurso.

A exposição estará aberta ao público até ao próximo dia 3 de Novembro.







20 de outubro de 2009

Vacinação para Gripe A/H1N1 no Japão

O Ministério da Saúde japonês deu início ontem à campanha nacional de vacinação contra a Gripe A/H1N1. A informação relevante sobre esta campanha está nos sites do próprio Ministério, bem como nas entidades oficiais abaixo indicadas.

http://www.mhlw.go.jp/english/topics/influenza_a/index.html

Infectious Disease Surveillance Center
http://idsc.nih.go.jp/disease/swine_influenza_e/index.html

Tokyo Metropolitan Government Infectious Disease Surveillance Center
http://idsc.tokyo-eiken.go.jp/index-e.html

19 de outubro de 2009

16 de outubro de 2009

Concerto de Fado e Música Africana por Mio Matsuda

Dia 11 Dezembro próximo. Mais informações em:
http://www.embaixadadeportugal.jp/2009/10/16/mio-matsuda/pt/

27.º Concurso de Eloquência em Língua Portuguesa para Estudantes Universitários Japoneses

14 de outubro de 2009

Geminação entre Abrantes e Hitoyoshi (Prefeitura de Kumamoto, Ilha de Kyushu)






Realizou-se, em Abrantes, em 24 de Setembro de 2009, a cerimónia oficial da assinatura do Acordo de Geminação entre a cidade japonesa de Hitoyoshi (38.815 habitantes), na Prefeitura de Kumamoto, Ilha de Kyushu), e a cidade ribatejana de Abrantes (18.600 habitantes).

O acto de formalização da geminação foi realizado no Salão Nobre dos Paços do Conselho de Abrantes pelo Presidente da Câmara de Abrantes, Sr. Nelson de Carvalho, e o Mayor de Hitoyoshi, Sr. Nobutaka Tanaka, tendo sido testemunhado por diversas entidades públicas e civis.

Abrantes possui acordos de geminação com a cidade francesa de Parthenay (desde 1993) e com o município de S. Nicolau, Cabo Verde (1998).


Esta é a 7.ª geminação de cidades portuguesas com cidades japonesas. Para saber mais, consulte
http://www.embaixadadeportugal.jp/centro-cultural/portugal-e-japao/cidades-geminadas/pt/.

13 de outubro de 2009

De Palmela para Quioto





Uma estação de metro japonesa será decorada com azulejos feitos numa oficina tradicional portuguesa (por Isabel Nery, in VISÃO-1OUT'09)


De Portugal, conhece as cidades onde há muitos azulejos. De português, sabe apenas palavras como «azul» ou «forno». Assim que viu os primeiros quadrados de cerâmica, em livros de arquitectura, Haru Ishii decidiu que tinha de aprender a fazê-los. Nunca imaginou que fosse tão difícil. Nem que isso lhe trouxesse a fama. Foi em 1995, no ateliê de Sebastião Fortuna, em Palmela, que pôs a mão no barro pela primeira vez. Desde então, volta a Portugal, e a esta oficina, todos os anos. Agora, a artista japonesa já não tem dúvidas: «Vou fazer azulejos até morrer.»


Graças a Haru, a técnica portuguesa está espalhada pelo Japão. Estações de comboio, zonas comerciais e centros de congressos são alguns dos espaços públicos com azulejos feitos em Portugal e criados pela artista nipónica. «No Japão também se fazem azulejos, mas não é a mesma coisa. Não têm o mesmo brilho», garante Ishii, entre uma palavra portuguesa e um inglês difícil, acabando no japonês. Haru já aprendeu a ultrapassar o problema do vidrado que quebra com o frio de algumas das cidades japonesas ou do trabalho que chega partido por causa do transporte. Ainda tentou criar as suas peças de azulejo no Japão, mas essa opção implicava peripécias tão frustrantes que acabou por desistir. A artista garante que «aquele» azul cobalto só se consegue obter em Palmela. «Tentei de várias maneiras e nunca fica igual ao que fazemos em Portugal.»


A ARTE DO IMPREVISÍVEL


Observar e experimentar foi a escola de Haru. Apesar de já levar quase 15 anos de experiência com a cerâmica nacional, a artista continua deslumbrada com a imprevisibilidade do material: «Imagino uma coisa, depois sai do forno e é outra», assegura, enquanto mostra dois azulejos em que os azuis resultaram completamente diferentes, apesar de o processo de fabrico ser o mesmo. Depois da missão cumprida na nova estação/interface de metro de Quioto – a artista acaba de enviar mais de 6 mil azulejos para os painéis a instalar na zona comercial –, aproveita os últimos dias em Portugal para preparar a próxima exposição. Será só de azulejos e inaugura em Outubro, na mesma cidade.


Junto ao quadrado de cerâmica, de fundo azul, que explica os painéis de Haru Ishii em japonês, haverá outro com a tradução portuguesa: «Fabricados entre 2008 e 2009, no Espaço Fortuna Artes e Ofícios, em Portugal, e pintados à mão, estes 9 050 azulejos pretendem ser um louvor à vida e uma prece à água.» Para os caracteres japoneses resultarem neste suporte foi preciso picotar cada letra a alfinete, antes de cozer o barro. Mas há uma palavra que não deu problemas, sendo igual nos dois painéis informativos: «azulejo», claro, não tem tradução em japonês.


Com este trabalho completo, a artista plástica termina o seu maior projecto. Mas o regresso está garantido. E não só pela paixão pelo azulejo. Da primeira vez que visitou o País, comeu um queijo de Azeitão inteiro, «com casca e tudo». Agora, conta, divertida, já sabe que é melhor comê-lo à colher, com pão, e acompanhá-lo com vinho...

2 de outubro de 2009

Ex-Presidente da República António Ramalho Eanes em Tóquio

O ex-Presidente da República, António Ramalho Eanes, esteve em Tóquio entre 27 e 30 de Setembro 2009, onde participou na Conferência "África & Globalização", organizada pela Universidade das Nações Unidas, que contou ainda com a presença dos antigos Presidentes da República da Nigéria (Olusegun Obasanjo), do Gana (John Kufuor), do Mali (Alpha Konaré) e Namíbia (Sam Nujoma).

Em seguida, transcreve-se a intervenção do General Eanes na Conferência.
"África: O peso do passado e o valor da cultura no encontro com o futuro", por António Ramalho Eanes

Observadores há que defendem a tese de que a vigente globalização é inteiramente nova na História. Outros há, pelo contrário, que advogam que ela não é, na sua essencialidade distintiva, diferente da ordem mundial que prevaleceu sob a batuta dominante da Grã-Bretanha nos séculos XIX e XX.
Creio, porém, que a pretensa «velha globalização», a inglesa (entre 1840-1914), não passou de um lato e muito importante processo de internacionalização da economia e das ciências – de todas as ciências – e dos seus frutos tecnológicos.

A globalização do «mundo finito»

Defendo, pois, a tese de que o mundo antigo teve a sua própria globalização. Chamar-lhe-ei, utilizando uma expressão de Paul Valéry, em Regards sur le monde actuel, a do «mundo finito», em contraposição à actual, que designo por a do «tempo finito».
Até meados do século XVIII, “O mundo não existia enquanto unidade para a humanidade”. O mundo, aos olhos do homem, não constituiria, então, uma unidade real. Poder-se-á, mesmo, afirmar que o mundo desconhecia o mundo. Não havia então fenómenos – quaisquer que fossem – universais.
Ainda em 1750 a velocidade de deslocamento do homem se media pelo seu passo ou pelo passo da sua montada, ou pela velocidade do seu barco à vela. “O mundo era como que formado de humanidades separadas”, só ligadas, parcialmente, pelo comerciantes.
Esta situação começa a mudar com a chamada «epopeia dos Descobrimentos», epopeia marítima iniciada pelos portugueses logo no século XV, com a conquista de Ceuta, no norte de África, onde desaguava o comércio das especiarias orientais, e do marfim e ouro africanos. Aventura de um pequeno povo, pequeno demograficamente, parco de território (com 89 mil km2) e recursos, vivendo sob a ameaça centriptamente unificadora de Espanha.
É assim que Portugal se aventura nos mares, tornando-se primeiro na aventura oceânica europeia. Intuição e reflexão geoestratégica, notáveis, que os leva a «descobrir» o Atlântico, o Índico e o Pacífico.Sob a liderança do príncipe navegador D. Henrique, Portugal ultrapassa o cabo Bojador, na costa ocidental africana, em 1434; em 1487 atinge o Cabo da Boa Esperança, no extremo Sul de África; em 1498 chega à Índia; em 1511 instalaram-se os portugueses em Malaca e em 1513, partindo daí, iniciam uma ligação comercial com a China, desta recebendo, em 1557, a Península de Macau.

Ao Japão – de cuja existência a Europa recebe notícia através de Marco Polo, que o refere como “uma ilha grande, de gente branca, de boas maneiras e bela”– chegam os portugueses em 1542 ou 1543.
E, até em homenagem aos amigos japoneses presentes, permitam-me uma breve digressão sobre o mutuamente gratificante encontro e descoberta luso-japonês. Desse profícuo encontro e contacto, muitas foram as palavras japonesas que passaram para a língua portuguesa, que nela mantêm assento e uso corrente (mais de 30). Muitas foram, também, as palavras portuguesas introduzidas no vocabulário japonês (termos religiosos, nomes geográficos, de navegação, de alimentação, de indumentária e vestuário).
No século XVIII, quando outros povos europeus acordaram para a «aventura» ultramarina, já os impérios português e espanhol estão em declínio. É então a vez de Inglaterra, França, Províncias Unidas e países escandinavos.
A estes países se juntarão a Alemanha e a Itália. Por volta de 1770-75, navegadores ingleses e franceses descobrem os chamados «arquipélagos oceânicos». Um século mais tarde, os grandes exploradores Brazza, Livingstone e Stanley descobrem as nascentes do Zambeze e exploram a bacia exterior do Congo.
Nas expedições polares dos americanos, ingleses e noruegueses encontra-se como que o epílogo do processo mundializante iniciado por portugueses e espanhóis. As expedições ao Pólo Norte (em 1909) e ao Pólo Sul (em 1911) permitem que a humanidade conheça todo o globo, que se torna, a partir de então, conhecido. Concluída estava a primeira mundialização histórica, a globalização do mundo, a do «mundo finito».
Interesse haverá em rever, mesmo que sucintamente, as consequências, fastas e infaustas, desta primeira globalização. Interessante será esse regresso à história da colonização protagonizada pela Europa, pois pode ajudar-nos a bem perceber os erros graves, então reiteradamente cometidos, em especial sobre os povos africanos: porque o fizemos, onde nos encontramos, e o que podemos e devemos fazer para que a humanidade, que a globalização do «mundo finito» tornou una, viva em verdadeira democracia, que pressupõe, visa e exige, como disse John Keane, “uma memória [activa] orientada para o futuro (…) para estimular a imaginação política [e a responsabilidade social] democrática contemporânea”.

Colonização africana e crise pós-colonial

Traço distintivo de toda a colonização africana foi a dominação política, económica, intelectual e cultural, mesmo no aspecto religioso.
Na génese desta perversa condição terão estado o preconceito racial e, naturalmente, o estádio de avançado desenvolvimento técnico-científico e cultural da Europa.
Nesta linha pretensamente justificativa, a colonização pretenderia:
- Fazer aportar a civilização às populações africanas, melhorando as suas condições naturais e elevando o seu nível de vida;
- Libertá-las das primitivas crenças, de perversos efeitos sociais, de maléficos efeitos na condição e vida de tantos africanos (bruxaria, magia negra, possessão pelos espíritos), incluindo crianças;
- Corrigir injustiças, algumas delas, aliás, exercidas barbaramente pelos próprios colonizadores (como é o caso da escravatura negro-africana).
Aliás, poucos não foram os cidadãos ilustres que partilhavam deste «superior propósito de ensinamento» e nele se inspiraram para escrever obras notáveis, como foi o caso de Kipling.
Obnubilada pela consciência da sua superioridade militar, cultural, intelectual e económica, dominada pelo complexo eurocêntrico, empenhada em satisfazer interesses materiais diversos, incapaz foi a Europa de bem perceber que os povos, todos os povos, e, obviamente, os africanos também, têm uma tradição histórica, uma personalidade cultural, que se impõe respeitar, até para a poder, sem traumas psicossociais, mudar, transformar, modernizar.
Na Conferência de Berlim, realizada entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, que decidiu a partição de África entre as grandes potências militares e capitalistas da Europa, obedecendo apenas a uma lógica de força e interesses, consideradas não foram, nem minimamente sequer, as realidades étnico-territoriais africanas, as suas animosidades históricas. Facto, este, que necessário é considerar para explicar e compreender muitas das guerras civis que têm devastado o continente africano, como, por exemplo, a dos hutus e tutsis no Ruanda, que se processa genocidicamente perante a passividade das instâncias internacionais, da ONU em especial.
Assim, ao não atender a este conjunto de imperativas razões, morais até, fez embarcar os povos africanos numa aventura culturalmente desfigurante, que preferiu o encarceramento à liberdade, a opressão à expansão, o engano à verdade, a parcialidade à totalidade.
Neste quadro, se poderá, creio eu, encontrar os principais motivos que terão levado África a falhar o seu encontro com o presente e o futuro, na modernização económica e no desenvolvimento social.
Assistido se tem ao “agravamento trágico e dramático da crise pós-colonial através de guerras civis que se desenvolvem um pouco por todo o lado na África sub-sariana”. Ditaduras sanguinárias se têm repetido dramaticamente no continente africano, que têm destruído o presente e problematizado o futuro de milhões de africanos.
E, tanto ou mais grave, contribuído terão para expressiva expressão darem à “forte instabilidade crónica”, a “rebeliões sangrentas e a ódios étnicos inscritos em velhas rivalidades históricas”, mas, também, para destruir “os laços tradicionais da solidariedade africana”.
Na verdade, incapazes se têm mostrado de modificar promissoramente a situação do continente africano, que definir se pode referindo que África:
- Com 13,4% da humanidade, não alcança senão 1% do PIB do planeta;
- Não participa senão em 2% do comércio internacional;
- Não recebe mais que 1% do investimento directo do estrangeiro;
- Apesar de um crescimento relativamente forte da economia africana em 2003, um terço dos países da África subsariana registava um recuo no rendimento por habitante, enquanto o número de pessoas em situação de pobreza extrema (menos de 1 dólar por dia) aumentava aproximadamente para 60 milhões depois de 1990 na região.
Acresce, negativamente ainda, que a via democrática por que optaram muitos governos africanos, depois do fim dos anos 80, sob a pressão e fiscalização do Fundo Monetário Internacional, da Comunidade Económica Europeia (Terceira Convenção de Lomé, em 1985-90) e da própria França (Cimeira Franco-africana, em La Baule, em 1990), longe está de ter contribuído para qualquer sucesso. Problemas graves surgiram com a proliferação anárquica de partidos políticos de base étnica, que alimentados foram pela frustração e correlativa contestação social, estimulados pelos nocivos efeitos de subdesenvolvimento e ampliados pelas possibilidades oferecidas pela relativa liberalização dos meios de expressão.
O peso asfixiante da dívida externa e as políticas de austeridade impostas pelo Fundo Monetário Internacional contribuído terão para destabilizar os regimes que optaram pela via dita democrática porque a redução das disponibilidades financeiras desses Estados frustraram as expectativas da clientela que estão na base da sustentação de inúmeros Estados. “Nestas condições bem poucos Estados africanos parecem capazes de conciliar a ordem e a liberdade”, que indispensável é para que as sociedades sejam civis. Situação, esta, de contestação, de agitação social, que negativamente interfere nos detentores de capital que pensem investir em África. E sem investimento externo, como é óbvio, possível não é manter a estabilidade macroeconómica e acelerar as reformas estruturais, nomeadamente na saúde, educação e serviços públicos (rede de transportes públicos, energia, água, telecomunicações, etc.).
A tudo isto, já sobejamente problemático, se somam, negativamente também:
- Situação demográfica explosiva, caracterizada por um efectivo pouco numeroso de adultos em idade de trabalho, e manutenção de uma forte natalidade.
- Sobremortalidade infantil devido à subalimentação.
- A SIDA, particularmente violenta (sobretudo no Ruanda, Burundi, Uganda, Quénia, Tanzânia e Zaire), que agrava a situação económica, financeira e social (26 milhões de africanos estão infectados, o que localiza, no continente, 7% das vítimas da pandemia do HIV).
As organizações internacionais (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, ONU e OCDE), bem como numerosas organizações não governamentais, sensíveis se terão mostrado a esta situação, fixando, sob a designação “Objectivos do Milénio”, um programa para redução para metade da pobreza extrema até 2015. Objectivos que parecem excessivamente ambiciosos. Na verdade, as ajudas públicas ao desenvolvimento permanecem a um nível insuficiente, apesar do esforço suplementar decidido em 2002, que mais não fez que compensar as insuficiências de ajuda acumuladas desde 1990. Cumulativamente, o NEPAD (New Partnership for Africa’s Development) lançou, em 2001, com os países ricos do G8, um programa de ajuda ao desenvolvimento, vinculando a sua concessão às reformas democráticas e liberais. Modesto, bem modesto, se mostra o balanço dos resultados conseguidos em 2005. Verdade é que a ajuda institucional contribuído terá, justamente, para reduzir o peso da dívida externa africana, que, depois de 1995, se situava ainda nos 205 biliões de dólares.
Difícil é a África, nesta situação, recorrer ao endividamento externo, muito em especial depois da segunda crise financeira mundial. E o capital estrangeiro indispensável é para ajudar África a sair do pântano em que caiu e se encontra.

A globalização do «tempo finito»

A chamada «Nova Economia», com recurso à gestão liberal das técnicas modernas de informação e comunicação, tornou-se portadora de uma promessa de crescimento económico estável e duradouro. Da internacionalização (isto é, da intensificação das relações entre as economias nacionais) o neocapitalismo salta para a globalização, que do planeta faz um mercado único, global.
Mas, a globalização tem um reverso, que se deve, segundo os peritos, ao facto de nenhuma das actuais organizações internacionais estar capacitada, com autoridade suficiente, para a regular, para evitar disfuncionamentos, restabelecendo e impondo aos actores da economia globalizada regras de funcionamento, regras por todos admitidas e por todos, também, controladamente respeitadas.
Perante esta situação, claro se torna que o grande desafio, para a política, no século XXI, consiste em erigir, concertadamente, um modo novo de regulação mundial com novas instituições internacionais ou com as actuais adequadamente reformadas. Enfim, necessário e urgente se tornou restabelecer um controlo ético, político, jurídico e institucional sobre o capitalismo mundial.

Globalização e África: promessas e consequências

Também em África, a globalização foi recebida com esperança. Os fluxos de capital nos países em vias de desenvolvimento viriam a crescer promissoramente: multiplicados foram por seis, em seis anos (entre 1990 e 1996). Supunha-se, então, que todos – todos os países e homens – ganhariam com a globalização, que, supostamente, ajudaria os países em vias de desenvolvimento a “criar melhores ambientes económicos”, a saltar para a era da informação, a acelerar o desenvolvimento e a potenciar a harmonia global.
Porém, a África erudita encara a mundialização com cepticismo e, mesmo, grande preocupação. Situação que preocupado tem também as igrejas que trabalham em África, nomeadamente a Católica. Assim, a Santa Sé difundia uma nota sobre as finanças e desenvolvimento, em vésperas da Conferência da ONU, em Doha, em que refere que: “É necessário prestar uma atenção particular ao Continente Africano, onde o mapa do desenvolvimento regista fortes desigualdades. Em África, a situação é diferente de país a país; aliás, observa-se uma tendência à polarização entre situações de êxito na obtenção de recursos e na sua frutificação, e situações de total marginalização.”
A Globalização tornou-se, pois, um fenómeno com consequências desastrosas para os governos e para os povos do continente africano, como sejam:
A integração da economia africana na economia capitalista fez com que o «colonialismo» proporcionasse uma ferramenta legal para a dependência da economia africana face às economias ocidentais.
A privatização intensificou a integração dos países africanos nos sistemas globais de produção e finanças, encorajando os fluxos de investimento de capital e atraindo a propriedade de empresas anteriormente detidas por capital público por parte de capital estrangeiro.
África tornou-se o local onde são «despejados» uma série de produtos que pouco têm a ver com o povo africano, tanto a nível literário, como cinematográfico ou musical, o que acarreta a obliteração da cultura africana, conduzindo a uma visão eurocêntrica da realidade.
A globalização subverte a autonomia e os poderes da auto-determinação dos povos africanos. O peso da dívida externa dos países em vias de desenvolvimento, em 1994, atingira já 2 triliões de dólares, segundo o Banco Mundial. Naturalmente, esta pobreza massificada acarretou a privação dos cidadãos de uma existência com significado.
A falta de incentivos dos governos à produção local, a subversão da produção local por elevadas importações, a desvalorização cambial e o esgotamento de reservas externas é um dos efeitos da marginalização e subdesenvolvimento causados pelos agentes do desenvolvimento.
A globalização tem tornado muito difícil aos governos assegurarem protecção social, uma das suas funções centrais e a que tem ajudado muitas nações desenvolvidas a manter a coesão social e o apoio político interno.
Por outro lado, a globalização também danificou o ambiente natural de África. A título de exemplo, cita-se o Delta da Nigéria e o povo Ogoni em particular, afectados pela exploração petrolífera da região, que tem devastado a vida e o ambiente marinhos, tem afectado o fornecimento de água potável e causado uma série de doenças.

O futuro de África

Como poderá, pois, África libertar-se de tão pesada quão angustiante e maldita situação?
Para muitos, académicos e religiosos sobretudo, como é o caso de Engelbert Mveng, “a reconstrução de África passa primeiramente pela aquisição de uma espiritualidade empiricamente enraizada nos valores culturais africanos”.
Reencontrados esses antigos valores culturais, modernizados pela educação e sublimados pelas igrejas, razoável é esperar que a corrupção, que grassa em África – devido, sobretudo, à mancomunação perversa da economia e da política –, sofra manifesta redução e que a economia passe a ser dirigida pelo direito, este elaborado pela política, e ela própria dirigida pela ética. Então, e só então, haverá, em África, sociedades civis e civilizadas.
Mas, como operacionalizar, em África, uma dinâmica de confiante crescimento sustentado das suas economias, com potencial suficiente para erradicar as injustiças gritantes que assolam o continente neste tempo de irreversível globalização?
Reconhecida é a necessidade de um conjunto de políticas articuladas que permitam garantir a paz e a segurança, atingir e manter a estabilidade macroeconómica, assegurar a abertura ao comércio internacional e a liberalização dos regimes cambiais, atrair os fluxos de capital estrangeiro, dada a exiguidade de capital nacional, e estabelecer as necessárias infra-estruturas económicas e sociais.
Para conseguir a realização de tais propósitos, necessário se torna, entre outras medidas:
- Desenvolver uma boa governação, com competência e seriedade;
- Modernizar a administração pública com competência técnica e segurança legislativa;
- Garantir a segurança, do investimento nomeadamente, através de adequada legislação que garanta transparência, previsibilidade e seriedade no processo de decisão política e pública;
- Promover a independência competente dos tribunais, dotando-os de moderna organização, servida por pessoal tecnicamente competente;
- Estabelecer bancos centrais nos Estados, com independência, a que cabem, funcionalmente, garantir a estabilidade dos preços e a transparência na política monetária;
- Promover a ligação efectiva do governo com a sociedade civil, através de uma organização do poder político, de génese e funcionamento democrático, respeitadora da sua realidade cultural;
- Promover a aptidão e o mérito escolares, concedendo acesso à frequência gratuita do ensino superior, no país ou em universidades estrangeiras, contratualizando com estes a prestação de serviços ao Estado durante um certo número de anos após a formatura;
- Promover o ensino agropecuário, estabelecendo «bancos de terras», para terra conceder aos jovens agricultores, que deveriam ser apoiados financeira e tecnicamente por peritos agrícolas, nacionais e estrangeiros;
- Empenhar-se na formação de mão-de-obra especializada, sobretudo nos centros urbanos, em escolas de artes e ofícios, sempre que possível através de congregações religiosas com larga experiência nessas actividades;
- Promover um sistema flexível de prestação de serviços de saúde a toda a população, recorrendo aos meios e especialistas das Forças Armadas, a ONG e a voluntários, mesmo estrangeiros;
- Reformar as instâncias internacionais, as africanas nomeadamente, dotando-as de meios e poder efectivo para responder aos conflitos interafricanos.
Trabalho ciclópico, mas necessário e possível, como bem no-lo demonstra, em larga medida, o exemplo cabo-verdiano de eficaz, competente e democrática governação, merecedora da confiança, mesmo na utilização de ajudas financeiras internacionais.
Trabalho que, teoricamente pelo menos, tão ciclópico não seria se realização conseguíssemos dar a sonhos, utopias, que laboraram alguns dos grandes filósofos do século XVIII, como Emmerich de Vattel e Kant, sobre a construção de um Estado universal.
A notória incapacidade da ONU, a emergência do conflito que destrói os Estados e faz regressar facções da humanidade ao «estado de natureza», como acontece na Somália, justificariam a sua reformulação. Justificação que encontrar se pode, também, não só na presente crise económico-financeira mundial, e na necessidade de virtuosamente lhe responder, como até na necessidade, imperativa, de responder a uma mundialização para todo o sempre, às mudanças climáticas, à biodiversidade, à gestão racionalmente interessada dos recursos hídricos e submarinos, aos desafios energéticos, ao terrorismo, ao diálogo inter-religioso, etc.
Disse o Papa Bento XVI, na sua nova encíclica Caritas in Veritate, que é preciso, em nome do homem – da sua felicidade – pôr termo aos excessos da sociedade global, tão pouco virtuosa e tão dominada por poderes e interesses. E acrescenta que “não devemos ser vítimas dela, mas protagonistas”. Apontando a falência da ONU, defende uma nova ordem política e económica, sobretudo uma “verdadeira autoridade”, reconhecida por todos e com poder efectivo, capaz de ajudar, consistentemente, as economias em crise, promover um integral desarmamento, garantir a segurança alimentar e a paz, cuidar de salvaguardar o ambiente, e de tornar virtuosas as relações entre o capital financeiro, a economia e o trabalho. Enfim, um Estado de direito planetário – utópico, seguramente, ainda por muito tempo –, que bem virtuosamente poderia responder às duas globalizações, que fizeram a humanidade una, contígua, de unitária interacção.