A origem da presença cultural de Portugal no Japão coincide com a chegada dos Portugueses a Tanegashima, em 1543, e o intenso intercâmbio que desde então se desenvolveu no sul do Japão, sobretudo na ilha de Kyushu, até à sua partida em 1639.
A influência de Portugal no Japão no decurso de quase um século foi relevante e sobretudo abrangente através da divulgação de conhecimentos das ciências náutica e militar, química, medicina, matemática, teologia, literatura e história.
Com o Cristianismo em expansão, nomeadamente no sul do País, e a conversão em massa da população e dos próprios Senhores locais (os «Daimios»), os hábitos do quotidiano foram-se alterando rapidamente com a adopção do que aqui era visto ou tido como estilo «Namban», reflectindo a influência dos portugueses que chegaram pelo sul, com particular incidência no vocabulário, alimentação, farmacologia, traje e armamento.
Passados mais de duzentos anos após a saída dos Portugueses, e com a nova reabertura do Japão em meados do século XIX, já em plena era Meiji, e com o estabelecimento de relações diplomáticas em 1860 e posterior abertura da Embaixada em Tóquio, constatou-se com surpresa que apesar do hiato de mais de dois séculos e a perseguição de que os portugueses e os japoneses convertidos tinham sido alvo, a nossa influência e herança cultural tinha-se mantido mais preservada e apreciada do que se podia à partida esperar num País com uma cultura milenar tão diametralmente oposta à portuguesa.
É essa herança histórico-cultural que, face ao apreço e respeito que goza junto da opinião pública japonesa, tem sido a base deste relacionamento de longa data, continuando a ser uma vertente a redescobrir e desenvolver.
Nesse contexto, a promoção da língua e da literatura portuguesa assumem particular destaque, sobretudo pela divulgação que têm tido nas últimas décadas em várias regiões do país.
Quanto ao ensino da língua e cultura portuguesa nas universidades japonesas, o mesmo remonta a 1918, quando o Prof. João Abranches Pinto chega ao Japão para leccionar na Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio. No ano seguinte, foi criado o Departamento de Estudos Estrangeiros na mesma universidade.
Nos finais da década de 50 e durante os anos 60, outras universidades introduziram também a língua portuguesa nos currículos académicos, tendência que se manteve na década de 70 e, mais recentemente, nos anos 90. Num contexto específico onde avulta a realidade de cerca de 300.000 luso-falantes japoneses (resultado do fenómeno da intensa emigração japonesa no Brasil, face a uma comunidade portuguesa de cerca de algumas centenas de nacionais), existem actualmente cinco universidades, duas públicas e três privadas, que conferem licenciaturas em língua portuguesa: quatro em estudos luso-brasileiros e uma só em língua portuguesa, através de um departamento autónomo. Outras dezanove instituições de ensino superior ensinam o Português como segunda língua estrangeira ou opção, comportando na totalidade quase 2000 estudantes de Português. Tais universidades estão dispersas por todo o território japonês.
Tem sido sobretudo através da língua e estudos portugueses que se tem fomentado as relações entre universidades portuguesas e japonesas. Exemplos disto são os protocolos existentes de cooperação: Universidade Católica Portuguesa / Universidade Sophia, em Tóquio; Universidade de Aveiro / Universidade Sophia; Universidade de Coimbra / Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto, Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio e Universidade Waseda, e, mais recentemente, Universidade Nova de Lisboa / Universidade de Estudos Estrangeiros de Osaca. Os acordos entre as universidades têm gerado, sobretudo da parte japonesa, um importante fluxo de estudantes que anualmente frequentam as universidades geminadas. Nesse âmbito também coube à Embaixada de Portugal, através do Centro Cultural/Instituto Camões, apoiar a realização do «Concurso Anual de Eloquência em Língua Portuguesa para Estudantes Universitários Japoneses», organizado pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto, já na sua 24ª edição. Através desse concurso, premeiam-se os vencedores com bolsas de estudos anuais nas Universidades de Lisboa e Coimbra. O Instituto Camões, em parceria com o Instituto Português do Oriente, oferece duas bolsas de estudo e a Universidade de Macau patrocina as outras duas. Há dois anos, a Universidade de Estudos Internacionais de Kanda, em Tóquio, também passou a organizar um Concurso de Eloquência que conta com o apoio do Instituto Camões.
A presença de estudantes portugueses no Japão e de japoneses em Portugal, para além de se apoiar em acordos e protocolos, conta também com bolsas atribuídas no quadro do intercâmbio universitário, de que são exemplo as do Instituto Camões, por Portugal, e do Ministério da Educação (Mombusho) pelo lado japonês. O intercâmbio de estudantes é importante não apenas ao nível das licenciaturas, que se regista principalmente no âmbito dos referidos acordos entre universidades, mas também em pós-graduações (mestrados e doutoramentos). É a este nível que se diversificam os estudos nas áreas das ciências e das artes. De momento encontram-se dezoito estudantes portugueses no Japão, catorze dos quais com bolsa do Mombusho, a preparar pós-graduações e doutoramentos.
Como complemento ao ensino universitário de língua portuguesa, e para responder à crescente procura de locais de aprendizagem, desde Janeiro de 1998 que, o CCP/IC em Tóquio promove cursos de Língua e Cultura divididos em cinco turmas, correspondentes a outros tantos níveis de ensino.
Desde 2001 que se realizam no Japão os exames de Certificação de Português Língua Estrangeira, em Tóquio, Quioto e Osaca (no Cento Cultural desta Embaixada, Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto e Universidade de Estudos Estrangeiros de Osaca, respectivamente), resultantes de um protocolo de cooperação com o Instituto Camões, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Ministério da Educação.
Também no que diz respeito ao ensino pré-universitário, oito escolas secundárias no Japão (seis escolas públicas e duas privadas) apresentam nos seus currículos o ensino de língua portuguesa como segunda língua ou língua estrangeira. Deve-se ainda referir a existência de cursos livres de ensino de língua portuguesa em várias instituições, na sua maioria em horário pós-laboral. Devido à numerosa comunidade brasileira no Japão, existem 33 escolas primárias homologadas para ensino da língua portuguesa.
Ainda na área da Língua, tem havido a preocupação de estreitar relações com escritores, tradutores e editoras com fim a promover os nossos autores da actualidade, através de reuniões periódicas com os tradutores para esclarecimento de dúvidas e reuniões com editores para os incentivar e dar-lhes a conhecer os nomes emergentes da literatura portuguesa. O culminar deste empenho é o Prémio Literário «Rodrigues o Intérprete», instituído pela Embaixada de Portugal em Tóquio, em 1990, com base num fundo doado pelo antigo intérprete desta, Senhor Jorge Midorikawa. Através desse prémio assinala-se anualmente uma obra editada no Japão, em língua japonesa, sobre temas, autores ou traduções portuguesas. Ao longo das suas edições muitos foram os autores premiados, ora com traduções, ora com ensaios inéditos sobre temas portugueses.
Na área da cultura, desde 1990, o CCP/IC em Tóquio tem desenvolvido uma intensa actividade, em que convém destacar as «Celebrações dos 450 Anos da Chegada dos Portugueses ao Japão", em 1993; as «Comemorações do Centenário do Cinema Português, em 1996»; a «Celebração do IV Centenário da Morte de Luís Froís», em 1997; os «450 Anos da Chegada de S. Francisco Xavier ao Japão», em 1999; o «IV Centenário da Publicação do Vocabulário da Lingoa de Japam», em 2003 e, mais recentemente, os «150 Anos do Nascimento de Wenceslau de Moraes», em 2004. Quer através destes programas evocativos ou em iniciativas regulares, tem-se tentado promover os valores da cultura e do património português no Japão, com acções que deram a conhecer ou trouxeram até ao Japão nomes reconhecidos e revelações da cultura portuguesa.
Também na música muito se tem feito, com o apoio aos músicos portugueses que actuam no Japão (já por aqui passaram, sempre com assinalável sucesso, Maria João Pires, Mário Laginha, Sequeira Costa, Pedro Carneiro, Dulce Pontes, Katia Guerreiro, Cristina Branco, só para citar alguns nomes). Os Madredeus terminaram em Dezembro, em Tóquio, a sua tournée mundial.
Tais esforços continuam a ser uma constante da política cultural da Embaixada de Portugal, que tem agora como horizonte próximo a Presidência Portuguesa da U.E. em 2007, momento propício para novas iniciativas no Japão, tanto na área editorial, como na promoção da música e arte portuguesa contemporânea.
(in Suplemento do JL, 17/01/2007)