2011-12-25
Nestes últimos 6 meses, desde que tomei posse, ouvi muita gente de todo o País. Muitas pessoas partilharam comigo as suas ansiedades por dívidas que não conseguiam pagar, frustrações por oportunidades que não aparecem, preocupações com o futuro dos seus filhos.
Muito do que eu ouvi reflecte bem os tempos difíceis que vivemos. Mas também ouvi muitas palavras de coragem, de tenacidade e de esperança. Escutei muitos testemunhos de nobreza perante a adversidade de gente que não desiste, nem se resigna.
Estou bem consciente dos problemas que tantos enfrentam, sobretudo o dos jovens que querem começar a realizar os seus sonhos e o daqueles mais velhos que, apesar do capital acumulado de saber e de experiência, se vêem afastados do mercado de trabalho. Uma sociedade que se preza não pode desperdiçar nem os seus jovens nem as pessoas que se encontram na fase mais avançada da sua vida activa.
Estou bem consciente das desigualdades e das injustiças de tantos aspectos da sociedade portuguesa. São muitas as pessoas com quem falo que me relatam experiências de vida que atentam contra os nossos sentimentos mais elementares de justiça. E eu compartilho com elas a noção de que as nossas estruturas e as nossas instituições, tanto políticas como económicas, nem sempre estão à altura do serviço que têm de prestar.
Por várias vezes tenho dito que 2012 será um ano determinante para nós, para todos os Portugueses. Será determinante porque temos muitos compromissos para honrar, muitos objectivos orçamentais e financeiros para cumprir, mas sobretudo porque temos muitas reformas estruturais para executar.
2012 será um ano de grandes mudanças e transformações. Transformações que incidirão com profundidade nas nossas estruturas económicas. São estas estruturas que muitas vezes não permitem aos Portugueses realizar todo o seu potencial, que reprimem as suas oportunidades, que protegem núcleos de privilégio injustificado, que preservam injustiças e iniquidades, que não recompensam o esforço, a criatividade, o trabalho e a dedicação. São estruturas que têm de ser mudadas.
Também já tive a ocasião de dizer que a orientação geral de todas essas reformas será a democratização da nossa economia. Queremos colocar as pessoas, as pessoas comuns com as suas actividades, com os seus projectos, com os seus sonhos, no centro da transformação do País. Queremos que o crescimento, a inovação social e a renovação da sociedade portuguesa venha de todas as pessoas, e não só de quem tem acesso privilegiado ao poder ou de quem teve a boa fortuna de nascer na protecção do conforto económico.
Queremos que estas reformas nasçam de baixo para cima, queremos criar as condições para que todos os Portugueses, cada um dos Portugueses, nas suas escolhas, com o seu trabalho, com as suas capacidades, construa o seu próprio futuro e, em conjunto, o futuro de todos.
As reformas que o Governo vai executar foram pensadas para fazer dos homens e das mulheres de todo o País os participantes activos na transformação e na recuperação de Portugal.
O Natal é uma festa de paz, de tolerância, de dádiva, de partilha e de entreajuda. É uma festa em que nos é dada a compreender a importância de relações de amizade, de solidariedade e de confiança nas nossas vidas. Mas nem sempre consideramos devidamente que precisamos de restabelecer e fortalecer relações de confiança mais estáveis que vão além da nossa vida privada e familiar.
Na nossa vida colectiva a degradação dos laços de confiança ao longo dos anos teve graves consequências na qualidade da nossa democracia, no nosso desempenho económico e na nossa solidariedade comunitária. A confiança é um activo público, é um capital invisível, é um bem comum, determinante para o desenvolvimento social, para a coesão e para a equidade. São os laços de confiança que formam a rede que nos segura a todos numa mesma sociedade.
Ora, um dos objectivos prioritários do programa de reforma estrutural do Governo consiste precisamente na recuperação e no fortalecimento da confiança. Não só da confiança dos cidadãos nas instituições, mas também da confiança que temos uns nos outros, nas nossas relações profissionais, nas nossas relações sociais e nas nossas relações de cidadania.
Sem confiança, torna-se mais difícil agirmos em conjunto. Torna-se mais difícil trocarmos ideias ou experiências uns com os outros, ou fazer investimentos e projectos a longo prazo. Mas com mais confiança vem mais solidariedade, mais democracia, mais justiça e mais vitalidade social.
Para construir a sociedade de confiança que queremos temos de reformar a Justiça, temos de tornar muito mais transparentes a máquina administrativa e as decisões públicas, temos de abrir a concorrência, agilizar a regulação e acelerar a difusão de uma cultura de responsabilidade no Estado, na economia e na sociedade.
Aproveitemos, pois, esta quadra natalícia para recobrar o fôlego para as grandes tarefas que nos aguardam. Neste Natal temos razões para olhar de frente o futuro com esperança porque sabemos o que queremos. E porque sabemos que os portugueses têm sido corajosos e que o seu esforço vai valer a pena.
Um Bom Natal e um Feliz Ano Novo.